quinta-feira, 9 de dezembro de 2010




(Ela acaba de sair de uma festa. É o amanhecer, agora. Ele acabou de dar-lhe um pé na bunda. Ela passou no carro dele antes de ir embora a pé; pegou o casaco, a rosa que ele lhe havia dado, o livro e as chaves. Com as chaves, escreveu Idiota no capô.)
Estava feliz como uma abelha pousada em uma rosa. Segurava entre suas mãos um livro grosso e pesado, e sentia em sua pele a textura suave da capa gasta. Sorria sem parar. Na outra mão, aquela que carregava um solitário diamante, do tamanho dos olhos de uma abelha pequenina, segurava uma rosa vermelha; conforme caminhava, a rosa cuidava de marcar o caminho com suas pétalas perfeitas. Seus pés, antes doloridos e machucados pelos sapatos de saltos absurdos, agora sentiam a grama úmida de orvalho da manhã. Ela ainda sorria. A rosa, percebeu só agora, tinha espinhos, e mesmo assim, a menina ainda segurava o caule com força. Finalmente sentiu a dor. Então riu. Um risinho irônico, maldoso. Não pense que você é grande coisa, sua flor idiota, ela disse. Ele também tinha o poder de me machucar, assim como você. E veja só, eu ainda estou aqui. Então jogou a flor no chão, mas seu caminho continuava a ser marcado por pétalas vermelhas; gotas de sangue do tamanho de uvas pingavam de sua mão. Seu caminho ainda era marcado. Ela ainda se sentia feliz. Feliz por saber que ele era um idiota, e que ela não precisava dele de forma alguma. Feliz da maneira errada, pelo motivo errado, e sabia disso. Mas pouco importava. Quando se está feliz como ela estava, não importa realmente o que está acontecendo, mas o sentimento que toma conta de você.

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