quinta-feira, 9 de dezembro de 2010




(Ela acaba de sair de uma festa. É o amanhecer, agora. Ele acabou de dar-lhe um pé na bunda. Ela passou no carro dele antes de ir embora a pé; pegou o casaco, a rosa que ele lhe havia dado, o livro e as chaves. Com as chaves, escreveu Idiota no capô.)
Estava feliz como uma abelha pousada em uma rosa. Segurava entre suas mãos um livro grosso e pesado, e sentia em sua pele a textura suave da capa gasta. Sorria sem parar. Na outra mão, aquela que carregava um solitário diamante, do tamanho dos olhos de uma abelha pequenina, segurava uma rosa vermelha; conforme caminhava, a rosa cuidava de marcar o caminho com suas pétalas perfeitas. Seus pés, antes doloridos e machucados pelos sapatos de saltos absurdos, agora sentiam a grama úmida de orvalho da manhã. Ela ainda sorria. A rosa, percebeu só agora, tinha espinhos, e mesmo assim, a menina ainda segurava o caule com força. Finalmente sentiu a dor. Então riu. Um risinho irônico, maldoso. Não pense que você é grande coisa, sua flor idiota, ela disse. Ele também tinha o poder de me machucar, assim como você. E veja só, eu ainda estou aqui. Então jogou a flor no chão, mas seu caminho continuava a ser marcado por pétalas vermelhas; gotas de sangue do tamanho de uvas pingavam de sua mão. Seu caminho ainda era marcado. Ela ainda se sentia feliz. Feliz por saber que ele era um idiota, e que ela não precisava dele de forma alguma. Feliz da maneira errada, pelo motivo errado, e sabia disso. Mas pouco importava. Quando se está feliz como ela estava, não importa realmente o que está acontecendo, mas o sentimento que toma conta de você.

domingo, 5 de dezembro de 2010


Eu mudei. Os tempos mudaram. Tudo mudou. Só você, amiga, que continua com essa idéia ridícula de que existe um príncipe encantado, um cavalo branco e um castelo, no seu próprio conto-de-fadas. Acorda, garota. Depois de tudo isso você ainda não aprendeu que tudo que nos ensinaram era mentira? Nada é real. Não existe amor verdadeiro, ou pessoa perfeito, ou metade da laranja. Cada um está sozinho. O grande truque, o trunfo, a carta na manga, é encontrar alguém que queira ficar sozinho com você.
Infinitamente - e permanentemente - com você.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010




Estava se sentindo linda e poderosa. Usava um anel de prata no dedo médio da mão direita, e um cravejado de minúsculos diamantes no anelar, na esquerda. Quando levou os dedos até a taça de champagne, hesitou em erguer o dedo mínimo, desconfiada de que qualquer um que visse tal ato a compreendesse como uma nova rica. Ela precisava causar uma boa impressão, e parecer alguém sem classe ou berço estava fora de cogitação. O vestido longo de renda negra a irritava; estava doida por um par de calças jeans velhas e um bom moletom puído, mas não poderia jamais usar roupas assim novamente. Não se conseguisse o que buscava naquela lugar. Levou a taça até os lábios, mas parou a meio milímetro de distância deles, lembrando-se do batom vermelho vivo que usava. Ficaria a marca na borda da taça de cristal? E seria isso algum tipo de grosseria? Repensando seus atos pela milionésima vez, ela baixou a taça. Melhor não arriscar, não é mesmo? Este não era um lugar para se usar frases como "Quem não arrisca não petisca". (O único petisco que ela queria era aquela coisa gosmenta e cinzenta que vira uma jovem garota loura comer. Queria aquela coisa para ver se seria capaz de copiar o biquinho e o leve assobio que a garota fez ao chupar a gosma daquela curiosa casquinha.)
Cansada de ficar em dúvida até sobre como pegar num mero copo, ela ergueu ou olhos do líquido borbolhante momentaneamente e pode contemplar o rosto de uma dúzia de jovens rapazes, com seus smokings e ternos, olhando-a com curiosidade. Mas é claro que aconteceria. Ela podia não ser nenhuma Angelina Jolie, mas com certeza seus cabelos negros e longos, com seus caracóis e mechas naturais, seus lábios vermelhos e cheios e seus olhos verdes chamavam atenção. O vestido colaborava, colando-se ao seu corpo e marcando suas generosas curvas brasileiras. Quem ali já teria estado no Brasil? Poucos, acreditava. Estadunidenses não são grandes fãs de terras brasileiras, em sua maioria. Mas isso não importava. Ela agora era um deles. Ou brevemente seria.

Depois de cinco taças de champagne, ela já se sentia alegre. Conversara com algumas garotas, e notara que não tremera ou engasgara ao falar. Estava fluente. As meninas riam e riam, os dentes perfeitos reluzindo à luz fraca de velas. Casais e mais casais se formavam, mas ninguém saía do recinto onde a festa acontecia; iam para os cantos e escurinhos, mas permaneciam visíveis. Depois de se afastar de um grupo de belas moças morenas, ela se sentou em uma poltrona de veludo vermelho e bordados dourados. Tocou os traços da linha dourada sobre o tecido macio, e sentiu o bordado na ponta dos dedos hipersensíveis. Estava sentindo-se dona daquele lugar. Procurou rapidamente qualquer um dos rostos que vira cobiçando-a mais cedo, mas não encontrou nenhum. É assim mesmo, repetiu mentalmente. Eles acham que sou diferente, mas quando começo a rir e demonstrar que posso ser como qualquer outra, eles me esquecem. Tocou a renda do vestido e enfiou suas unhas longas entre as fendas do tecido, começando a rasgá-lo. Para que servia tudo aquilo? Um pretendente jamais viria. Com as longas unhas douradas, pôs-se a rasgar a meia-de-seda que cobria as pernas depiladas à cera - um luxo que não tinha enquanto morava no Nordeste brasileiro. Passou os dedos, ainda hipersensíveis, sobre a pele. Sentia-se macia como nunca fora. Nunca fora. Nunca. Ela não era. Aquilo não era ela. Uma máscara, talvez, mas nada real. Rasgou o resto da meia. Estava nervosa, só isso. Nervosa com o papel que tinha que fazer. Tirou faixas e faixas de renda do vestido, até diminuí-lo pela metade. Uma das meninas que conversara com ela há pouco tempo veio em seu socorro, desesperada para ajudá-la. Mas o que uma patricinha nova-iorquina poderia fazer? Comprar-lhe outras meias? Ela precisava de uma amiga, um ombro para chorar, não um par de meias novas. Gritou com a moça. Jogou champagne nela. De onde tirara aquela taça de champagne, aliás? Talvez da mão do velho senhor ao seu lado, que conversava animadamente com uma moça de sua idade. Todos a olharam, perplexos. Que é que ela está fazendo?, perguntavam os rostos. Alguém aí sabe? Não. Ninguém sabia, ninguém a entendia. Continuou a jogar champagne, agora rodando. Correu o mais rápido que pode - malditos saltos! - até uma mesa, e agarrou uma garrafa de champagne. Estava se passando por bêbada, obviamente. Tentou abrir a garrafa; não conseguiu. Tentou novamente, e falhou. Então lembrou-se de como vira homens fazendo nos filmes: agarrou um pedaço de pano (talvez a toalha da mesa; isso explicaria o barulho todo) e colocou-o em volta da rolha, puxando para os lados e então para cima. Com um estalo agúdo e forte, a rolha se foi, voando pelos ares como ela mesmo adoraria fazer. Voar para casa. O champagne derramava-se da garrafa como sua fúria derramava-se de si mesma. Então, meio segundo antes de quatro pares de mãos tocarem sua pele sensível para acabar com seu ataque de raiva, ela se sentiu plenamente... o quê? Calma, talvez. Tranquila. Descansada. Não, não. Ela se sentiu completa. Fez o que pode para se ajustar, mas não. Que se danem as jóias, as roupas e as bebidas, pensou, satisfeita. Ela não pertencia àquele lugar. Tinha de ir. Ir para sempre e nunca, nunca mais voltar.

Ah, eu me lembro de como era quando eu só ouvia música sobre amor, sobre o quanto dói amar. Agora, eu prefiro ouvir músicas que dizem o quanto é bom estar sozinha; isso me anima um pouco; me faz esquecer da minha depressão permanente e da minha constante vontade de morrer. Irônico, até.
Infinitamente irônico.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Começando bem!

Acabei de ver que, pela primeira vez, depois de ver a Bruna participar de um monte de promoções e eu resolvi participar da primeira que vi pela frente, eu ganhei! A primeira promoção da qual eu participo, e eu ganhei! Estou absolutamente feliz, meu Deus. Foi um golpe de sorte, mas tudo bem. Só estou postando isso aqui porque estou sentindo que muito em breve, haverá uma promoção para fazer com que as pessoas sigam este blog recém saído do forno.
Mais informações em breve.
Infinitamente breve.

terça-feira, 30 de novembro de 2010



Mesmo no mais profundo desespero, a gente sempre acha um jeito de dizer "que se foda o mundo". É a melhor coisa que existe: se desligar de opiniões alheias, ligar apenas para o que realmente te importa. Porque o que realmente importa são as nossas escolhas, e quem nós levamos conosco no coração. O que importa é nossa própria opinião.
Infinitamente opinião.


"Todas as vezes em que me aproximo de você, me falta ar nos pulmões e batidas no coração."

Não me venha com essa conversa de que adolescentes se apaixonam rapidamente, e que se desapegam com a mesma rapidez. Nós sentimos assim como vocês, nós também somos humanos. A intensidade de nossas paixões porém, e eu tenho que concordar, é muito maior. Somos muito mais intensos. Mergulhamos de cabeça em todo e cada um de nossos projetos. Somos verdadeiros artistas. Sabemos amar como ninguém mais é capaz. Nós podemos nos apaixonar com força, desejo, vontade.
Nós sabemos nos apaixonar de uma forma linda.
Somos extremamente dramáticos, em se tratando de amor, e claro, somos absurdos.
Somos adolescentes, artistas, apaixonados. Não há nada melhor que se apaixonar. Somos o que houve de melhor na humanidade, e sentimos muito por aqueles que não souberam fazer de si próprios artistas amantes.
Infinitamente amantes.

Bem-vindos

Remember what you told me.
Uma boa frase que, rezo à Deus, dê sorte e um bom começo a este blog.

Sejam bem-vindos ao Infinitamente Oito.

Algumas pessoas podem ter sido leitores ou seguidores do meu recentemente deletado blog, Boa de Assunto. O nome era petulante, eu estava me esquecendo de seu propósito original e, claro, eu não estava feliz com ele. Lembro-me de quando o criei, e de como era feliz, sendo uma "escritora", tendo um blog, como se isso fosse grande coisa. Mas para mim era, sempre será. Obrigada ao blog Boa de Assunto, meu início.

Agora, eu voltei. Pensei um pouco, refleti há muito mais tempo do que alguns podem acreditar, e agora estou aqui, fazendo o que eu gosto: escrevendo. Sobre mim, meus pensamentos, minhas dúvidas, dores. Sobre meus amigos, sobre outras pessoas. Não quero me sentir culpada por nada que escrever, então espero que vocês não esperem de mim mais do que eu estou disposta a dar. Este não é o blog como o So Just Smile, ou Souvenirs Boîte. Este não é o blog de promoções, ou resenhas. É um blog simples, quase insolente. Tudo muito subjetivo, claro. Infinitamente subjetivo.
Bem-vindos.